Depois de
muitas Helenas e mulheres mais calmas e equilibradas, Regina Duarte já vinha
ensaiando dar uma pesada em seus personagens com a teatral e dramática Clô
Hayalla (“O Astro”, 2011). Pelas mãos do diretor Rafael Primot e com Bárbara
Paz como companheira de cena, ela mete o pé na mulher apaixonada de Manoel
Carlos para encarnar Glória Polk, o centro da inquietante loucura do
drama/thriller "Gata Velha Ainda Mia" (2014).
Regina aparece
de cara quase lavada, cabelo meticulosamente desfeito, fumando muito, falando
mais ainda e enlouquecendo enquanto instiga quem assiste ao encontro entre ela
e Carol (Bárbara), uma jornalista que tem muito mais a ver com a escritora do
que você percebe até o meio do filme.
Rafael (que
já viveu na Globo a trans Stefany no seriado “Tapas & Beijos”) costura com
a dupla de atrizes uma tensão grande, um carrossel de emoções humanas.É como se
elas sentissem tudo uma pela outra o tempo todo, sem divisões, tudo muito
confuso, misturado e nervoso, neurótico, hipnótico. Entre o ódio e o amor, com
uma pitada de tensão sexual lésbica explícita e muito sensual, de bom gosto.
Mas tudo é tão instável porque humano e uma reviravolta na trama ao som de
“Devil in Me”, de Thiago Pethit, mostra que você ainda não viu nada e que o
ritmo tenso continua. Imperdível.
O longa foi
exibido como hors-concours na Première Brasil no Festival do Rio e tem uma
linguagem menos comercial, com toque de humor negro e o mesmo clima de discussão
bem tensa do tipo “Quem tem medo de Virginia Woolf?” (1966). Por isso talvez
não tenha rodado tanto os cinemas brasileiros, mas já está disponível no Now da
Net e em DVD. Vale a pena.
Fonte: Mix Brasil