Os donos do bar onde trabalhava o jovem João Antônio Donati,
18 anos, que foi encontrado morto em um terreno baldio em Inhumas, na Região
Metropolitana de Goiânia, disseram ao G1 que pediram a um cliente que
levasse a vítima para casa na madrugada em que o crime ocorreu, na quarta-feira
(10). “Quando foi por volta da 1 hora, fechamos o bar e meu marido pediu que um
cliente desse carona ao João. Essa foi a última vez que o vimos com vida”,
lamentou a comerciante Graça de Maria, na manhã desta sexta-feira (12).
Segundo os proprietários, o cliente do bar já prestou
depoimento à Polícia Civil. "Ele disse que levou o João até a esquina da
rua onde ele morava e que ele estava muito apressado, como se fosse encontrar
alguém. No entanto, não o viu com ninguém", relatou Graça. O jovem era
homossexual e a polícia acredita que ele tenha sido vítima de homofobia.
O G1 procurou o delegado Humberto Teófilo, responsável pelo caso, mas
ele não pôde atender a reportagem nesta manhã.
João começou a trabalhar como garçom no bar há duas semanas.
Apesar de cumprir expediente de sexta-feira a domingo, o jovem foi ao local na
noite de terça-feira (9). "Ele veio trazer umas roupas do meu marido que a
mãe dele lavou e ficou aqui ajudando”, contou Graça.
Mesmo trabalhando no bar há pouco tempo, João era um velho
conhecido dos proprietários. "Ele sempre vinha ao bar acompanhado da mãe e
ficamos amigos. Meu marido é espanhol e o fato do João ter morado lá na Espanha
por dois ou três anos nos aproximou ainda mais. Aí a gente precisava de ajuda
no bar e o contratamos", explicou a dona do estabelecimento.
Revolta
Segundo a comerciante, todos sabiam que o rapaz era homossexual, mas isso nunca
foi um problema para ele. "Ele falava abertamente sobre isso, mas era
muito respeitoso. Assim, todos os respeitavam também. Estamos chocados com essa
barbaridade".
O dono do bar, Jesus Hermínio, diz que a vitima era uma
pessoa "excepcional" e que não mereceria sofrer com tamanha violência.
"Ele era um bom menino, de extrema confiança. Muito educado e trabalhador.
É muito triste sequer imaginar que ele tenha sido vitima de homofobia",
destacou.
O casal diz que agora espera que justiça seja feita. "Ninguém imagina a
dor que essa família está sentindo. E todos nós, pois ele fará muita falta. Era
um menino alegre demais para terminar assim, com tanta tristeza. Imagino o
quanto ele implorou antes de ser morto. Só espero que as autoridades encontrem
os responsáveis", disse Graça. "Que prendam esse monstro que tirou a
vida do João", completou Jesus.
Crime
Laudo do Instituto Médico Legal (IML), concluído na quinta-feira (11) aponta
que a vítima lutou com o agressor antes de morrer e que ele possuía diversas
marcas de hematoma pelo corpo. O documento concluiu também que a vítima morreu
asfixiada e que não havia nenhuma fratura no corpo.
“Ele tinha diversos hematomas pelo corpo, no olho, no nariz.
E como não tinha nenhuma fratura, pode indicar que alguém ficou segurando o
rapaz enquanto ele não conseguia respirar. Mas só as investigações podem
esclarecer certinho como se deu toda essa dinâmica do crime”, disse o delegado
ao G1, na quinta-feira. Ele afirmou que não foi pedido nenhum outro
laudo em relação ao corpo da vítima.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais e causou revolta
em internautas de várias partes do país, que já marcaram protestos em cidades
como Inhumas, Belo Horizonte e São Paulo no próximo sábado (13).
Teófilo informou que a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República entrou em contato para pedir informações sobre o caso
e cobrar atenção à investigação. Em nota, o órgão também manifestou “suas mais
profundas condolências à família e aos amigos de João Antônio, apelando às
autoridades do estado para que deem ao caso a devida atenção”.
Fonte: G1