
Chega às livrarias nos próximos dias o livro Ditadura e Homossexualidades –
Repressão, Resistência e a Busca da Verdade (Editora EdUFSCar).
Organizado por James Green e Renan Quinalha, reúne nove artigos que analisam as
relações entre a ditadura brasileira (1964-1985) e as lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros (LGBTs). Discute de que
maneira a ditadura, mesmo sem empreender uma ação repressiva direta e
sistemática, como ocorreu no caso dos militantes de esquerda que participaram
de ações armadas, vigiou, perseguiu, puniu e dificultou a vida das pessoas
pertencentes a esses grupos.
A repressão às pessoas LGBT não começou nem acabou com a ditadura. Mas, como
observa Green numa das passagens do livro, a eliminação dos direitos democráticos
e das liberdades públicas, com o golpe de 1964, facilitou a vigilância e a
perseguição. Textos produzidos por militares e utilizados para nortear as ações
dos serviços de segurança, na chamada luta contra a subversão, frequentemente
associavam a homossexualidade aos esforços da chamada máquina comunista que
estaria minando valores e instituições no País.Uma das consequências da repressão foi o atraso no desenvolvimento dos movimentos de defesa dos direitos dos homossexuais. Quando a ditadura se instalou aqui, já existiam nos Estados Unidos e na Europa, assim como na vizinha Argentina, grupos organizados revindicando mudanças nessa área.
Paralelamente à descrição e análise das violências, a
coletânea não perde de vista as ações de resistência, nas suas mais diferentes
formas. Logo no prefácio, o historiador Carlos Fico, um dos mais respeitados
pesquisadores do País sobre o período ditatorial, observa que Ney Matogrosso e
o grupo Dzi Croquettes, duas experiências artísticas tão criativas quanto ousadas,
surgiram naqueles anos.
Um dos capítulos do livro é dedicado ao jornal Lampião da Esquina, que surgiu
no fim da década de 1970 e, em três anos de existência, enfrentou a censura, a
moral conservadora da esquerda e a intolerância da direita. Há um capítulo
também para o Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, o primeiro grupo LGBT no
Brasil.
No capítulo final, Da Liberdade à Democracia, o professor José Reinaldo de Lima
Lopes, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), aborda a
diferença conceitual entre direitos de liberdade e direitos de identidade e
acaba conectando o leitor às lutas de hoje. Na avaliação do autor, as lutas
pelos direitos dos homossexuais ajudam a consolidar a democracia. Daí o fato de
encontrar tanta resistência entre “os antidemocratas, os que se negam a retirar
do sistema jurídico os elementos discriminatórios, os que defendem que os
preconceitos sejam a base natural da lei”.
Green é professor de história do Brasil na Brown University, nos Estados
Unidos, e autor dos livros Além do Carnaval: a Homossexualidade Masculina no
Brasil do Século 20 e Apesar de Vocês: a Oposição à Ditadura Militar nos
Estados Unidos, 1964-85. Quinalha é doutorando em relações internacionais na
USP e autor do livro Justiça de Transição: Contornos do Conceito. Ele também
assessora a Comissão da Verdade Rubens Paiva, na Assembleia Legislativa de São
Paulo.
Os outros autores da coletânea, primeiro e alentado esforço organizado para
incluir a questão dos gays na historiografia da ditadura, são Benjamin Cowan,
Jorge Câe Rodrigues, Luiz Gonzaga Morando Queiroz, Marisa Fernandes, Rafael
Freitas e Rita de Cassia Colaço Rodrigues. O cientista político Paulo Sérgio
Pinheiro, integrante da Comissão Nacional da Verdade, e o deputado Adriano
Diogo (PT), presidente da Comissão Estadual da Verdade São Paulo, assinam
artigos no posfácio do livro, ao lado de Green e Quinalha.
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O lançamento do livro em São Paulo está marcado para 27 de novembro. Será na Biblioteca Mário de Andrade, a partir das 19 horas.
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O lançamento do livro em São Paulo está marcado para 27 de novembro. Será na Biblioteca Mário de Andrade, a partir das 19 horas.
Fonte: Estadão/ Por ROLDÃO ARRUDA
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