
"A mesma avenida que abriga uma das maiores paradas gay
do mundo é o lugar onde se mata homossexuais. É inadmissível. Somos pessoas de
duas caras, falsos moralistas", afirma a historiadora Mary Del Priore, que
estuda a sexualidade no Brasil ao longo dos séculos. Mary acaba de lançar o
livro "A Carne e o Sangue" (Editora Rocco), que aborda o triângulo
amoroso constituído por Dom Pedro I, a Marquesa de Santos e a imperatriz
Leopoldina. "D. Pedro dizia que fazia ‘amor de matrimônio’ com Leopoldina
e ‘amor de devoção’ com Domitila. Do sangue nobre cuidava a mulher, que lhe
dava os filhos e era a matriz. O prazer era com a outra. A imperatriz era muito
religiosa e tinha horror ao sexo. A marquesa, ao contrário. E D. Pedro era um
inconsequente machista, que teve dezenas de amantes", conta Mary.
Segundo a historiadora, o papel da igreja na formação da
nossa sociedade no século 19 ajudou a formar essa dupla moral. "A casa
tinha de ser o exemplo da sagrada família de Maria, José e Jesus, voltada para
os valores mais altos que preconizava a igreja católica. A igreja consagra o
matrimônio como obrigatório. Mais do que isso: o sexo dentro do casamento tinha
de ser higiênico e a única preocupação era a reprodução". De acordo com a
pesquisadora, a igreja regulamentava inclusive o que deveria acontecer entre
quatro paredes.
“Os beijos eram condenados. Os padres confessores
perguntavam o que as pessoas faziam no quarto e reprovavam todo tipo de toque
no corpo com objetivo de ter prazer. A posição da mulher sobre o homem era
contrária à lei divina. E ficar de quatro seria uma forma de animalizar o ato.
Esse casamento sem prazer vai incentivar o sexo prazeroso fora de casa",
declara a historiadora. E ela inclui outro exemplo da ambiguidade moral do
brasileiro: as pornochanchadas da década de 70. "Há vários estudos que
mostram que esse foi um momento de revolução sexual. Mas uma característica
comum nesse tipo de filme é que o homem que pega todo mundo está sempre atrás
de uma virgem. E a prostituta sonha com casamento de véu e grinalda. No Brasil,
a mulher sempre teve de ser pura, virgem, não saber de sexo. Isso depunha
contra o sexo feminino até pouco tempo", comenta Mary.
Homossexuais são assassinados e mulheres mentem sobre
parceiros
O preconceito contra as mulheres que praticam sexo
livremente permanece, segundo Mirian Goldenberg, antropóloga e professora na
UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Estive na Suécia fazendo
pesquisas sobre as mulheres. Lá, elas não são julgadas pelo comportamento
sexual, se teve 20 parceiros ou um. Aqui as meninas mentem. Elas me dizem que
se falarem que tiveram mais de três parceiros não arrumam namorados. E olha que
estou falando de jovens que estudam ciências sociais", diz Mirian, que
acrescenta: "No Brasil, ter marido e constituir família é de um valor
enorme para a mulher. Numa cultura assim, é difícil ter liberdade sexual.
Conheço algumas que têm medo do porteiro do prédio. Homem entra com dez
mulheres no apartamento sem nenhum problema. Elas não fazem isso. Esse tipo de
preconceito afeta o cotidiano e já deveria para ter acabado", afirma a
antropóloga que estuda a sexualidade na classe média carioca desde 1988 e é
autora dos livros "Toda Mulher é Meio Leila Diniz" e "Por Que
Homens e Mulheres Traem?" (Edições BestBolso).
O preconceito pode assumir formas agressivas e terminar em
mortes como mostra o Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais do Grupo
Gay da Bahia. De acordo com o documento, em 2011, ocorreram 266 assassinatos de
gays, travestis e lésbicas no país. Isso significa um aumento 118% desde 2007,
quando foram registrados 122 casos. Esses números foram obtidos através de
pesquisas em jornais, internet e notificação de pessoas ligadas às vítimas.
Embora os dados alertem para a violência cometida contra
esses grupos, mostram também uma mudança social, de acordo com Sérgio Carrara,
professor de antropologia do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade
do Estado do Rio de Janeiro) e coordenador do Centro Latino Americano Em
Sexualidade e Direitos Humanos. "Acho uma modificação importante no
cenário a maior visibilidade que os crimes homofóbicos estão tendo na mídia.
Começa-se a discutir e reconhecer a existência dessa situação. Vivemos um
processo histórico, onde está se exigindo respeito e reconhecimento. Mas isso
produz reações e situações de conflito de moralidades distintas", comenta
o professor.
Para o psiquiatra e sexólogo Ronaldo Pamplona da Costa, a ignorância está na raiz do problema. "Todo preconceito com relação à sexualidade é baseado na falta de conhecimento sobre o assunto. De uns anos para cá, começou a ser tratado como impróprio mostrar preconceitos sobre sexualidade. As pessoas passaram a posar de conhecedores ou liberais quando nem entendem do assunto. Isso resulta no brasileiro falso liberal", diz o médico, autor de "Os Onze Sexos" (Editora Gente), lançado em 1994 no qual abordou os cinco tipos de sexualidade para homens e mulheres (heterossexualismo, homossexualismo, bissexualismo, travestismo e transexualismo), acrescidos de um 11º grupo chamado de intersexo, onde estão agrupadas pessoas com defeitos físicos internos ou externos na região genital como hermafroditas, por exemplo. "Na época, sabia-se só sobre o heterossexualismo e colocava-se na mesma sacola do homossexualismo todas as outras sexualidades", diz Ronaldo.
Para dar uma ideia do desconhecimento sobre a sexualidade, o médico cita a própria categoria profissional. "Na faculdade de medicina não tem estudo da sexualidade nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Só como funcionam os órgãos genitais com vistas à reprodução", diz o psiquiatra. "Ninguém nasce preconceituoso. Ao longo da educação as pessoas vão assimilando isso. Um homossexual pode ser preconceituoso em relação à própria sexualidade em alguma medida porque, no geral, fomos criados para sermos heterossexuais", fala Ronaldo, relatando que, recentemente, atendeu em seu consultório uma jovem universitária que se assumia homossexual, embora não tivesse tido a prática, e que já havia feito amplas pesquisas sobre o tema. "Depois entrou a mãe dela, sozinha, uma mulher com curso superior, dizendo que não aceitava de forma alguma essa situação e que faria tudo para que a filha deixasse de ser homossexual."
Para o psiquiatra e sexólogo Ronaldo Pamplona da Costa, a ignorância está na raiz do problema. "Todo preconceito com relação à sexualidade é baseado na falta de conhecimento sobre o assunto. De uns anos para cá, começou a ser tratado como impróprio mostrar preconceitos sobre sexualidade. As pessoas passaram a posar de conhecedores ou liberais quando nem entendem do assunto. Isso resulta no brasileiro falso liberal", diz o médico, autor de "Os Onze Sexos" (Editora Gente), lançado em 1994 no qual abordou os cinco tipos de sexualidade para homens e mulheres (heterossexualismo, homossexualismo, bissexualismo, travestismo e transexualismo), acrescidos de um 11º grupo chamado de intersexo, onde estão agrupadas pessoas com defeitos físicos internos ou externos na região genital como hermafroditas, por exemplo. "Na época, sabia-se só sobre o heterossexualismo e colocava-se na mesma sacola do homossexualismo todas as outras sexualidades", diz Ronaldo.
Para dar uma ideia do desconhecimento sobre a sexualidade, o médico cita a própria categoria profissional. "Na faculdade de medicina não tem estudo da sexualidade nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Só como funcionam os órgãos genitais com vistas à reprodução", diz o psiquiatra. "Ninguém nasce preconceituoso. Ao longo da educação as pessoas vão assimilando isso. Um homossexual pode ser preconceituoso em relação à própria sexualidade em alguma medida porque, no geral, fomos criados para sermos heterossexuais", fala Ronaldo, relatando que, recentemente, atendeu em seu consultório uma jovem universitária que se assumia homossexual, embora não tivesse tido a prática, e que já havia feito amplas pesquisas sobre o tema. "Depois entrou a mãe dela, sozinha, uma mulher com curso superior, dizendo que não aceitava de forma alguma essa situação e que faria tudo para que a filha deixasse de ser homossexual."
Fonte: UOL Mulher
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