O fato é: lá estão vocês dois. Olhando o apartamento, discutindo o formato do pendurador de toalhas, curtindo o ventinho que bate na varanda e costurando sonhos. Não teve casamento, não teve jura de amor eterno e ninguém abençoando nenhuma união. Só vocês dois. Repartindo o espaço do armário (sempre menor do que a gente gostaria), dividindo as tarefas do dia a dia, brigando para ver quem vai ao supermercado. O que é meu é seu e o que é seu é meu? O que é nosso? Quem vai ficar com a conta de luz? E a do gás?
Morar junto pode não ser casar, mas é, de alguma maneira, ‘casar as vontades’ e começar uma eterna negociação. Outro dia, conversando com um casal de amigos, um deles me deu uma definição perfeita. Falou que morar junto é quando ‘jantar’ passa a ser uma questão e não mais um programa. E é bem isso mesmo. Se, durante o namoro, sair para jantar era um evento comemoradíssimo de sexta, agora é uma batata quente que um passa para o outro: “O que vamos comer hoje?”, pergunta um. “Ah, você decide”, rebate o outro. Da mesma maneira, aquele papo antiiiiigo, em que um gostava de cachorro e o outro não… entra em pauta. “Vamos ter cachorro algum dia?” Plantas, quadros, o cheiro do amaciante, o ponto da carne, futuros filhos. Está tudo ali, um do lado do outro. As educações, gostos diferentes, semelhanças, desejos em comum. É inevitável que tudo apareça. Tudo, agora, debaixo do mesmo teto.
E, de repente, em uma quarta-feira à noite — bem banal mesmo –, os dois em
silêncio, cada um com suas preocupações e vontades, tudo parece fazer sentido.
Sem véu, sem buquê, mas com um ventinho especial vindo da varanda.
Adorei o texto!
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