quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Amores rapidinhos


Onde foi parar a tolerância nos relacionamentos?

Você já reparou como andamos com a tolerância abaixo de zero? No supermercado, se a fila ao lado anda dois milímetros a mais do que a que estamos, mudamos imediatamente para ela. No banco, na estrada, na padaria, na farmácia. Estamos absolutamente intolerantes a espera. Fila? Nem pensar! E atendimento ao cliente então? Qualquer dia, alguém enfarta com aquela musiqueta cretina do caminhão de gás que toca incessantemente até que alguém resolva nos atender. Na TV, o efeito "zapping*" rege absoluto. Ninguém assiste propagandas. Os coitados dos publicitários são obrigados a criar peças geniais para atraírem a atenção de quem muda de canal a cada cinco segundos. É a era do dinamismo, do imediatismo. Ruim mesmo é quando transportamos essa ânsia para o relacionamento.

Infelizmente, hoje em dia, ninguém mais luta para manter uma relação.
- A fila anda! - É o que se ouve ultimamente.
Ao primeiro sinal de desgaste, a retórica é sempre a mesma:
- Olha, acho que a gente já não dá mais certo, melhor cada uma seguir o seu caminho.
São os "fast loves" ou "amores rapidinhos". Onde foi parar a paciência para compreender que relacionamentos precisam passar pela maturação e adaptação?
Os casais separam-se porque a outra deixa a toalha molhada em cima da cama, porque uma quer pintar a parede da sala de azul e a outra de verde, porque uma gosta de gato e a outra de cachorro, porque uma gosta de dormir com edredon e a outra de lençol etc etc etc. As desculpas para a separação são tão banais e fúteis que são quase desnecessárias. Mais franco seria dizer "estou perdendo tempo com você".
A disposição para encontrar um novo amor é imensa, mas para manter a chama da paixão da relação na qual a pessoa já está é praticamente nula. É muito mais fácil ficar solteira e encontrar outra pessoa do que valorizar o que vocês já construíram juntas. O que esquecemos nessa fase de "me deixa que eu quero ser feliz" é que todos os relacionamentos passam pelos mesmíssimos estágios. Inevitavelmente, uma nova relação passará pelo desgaste, pelas controvérsias, pelas discussões, pelas calcinhas penduradas na torneira do chuveiro, pelas toalhas molhadas em cima da cama, pelo ciúme, pela insegurança e por todos os outros impasses que você já vivenciou ao longo da sua vida romântica. A ilusão que uma nova relação trará desafios distintos é uma luz no final do túnel para quem quer sair à caça de uma nova namorada. O que diferencia os relacionamentos, na verdade, é que vamos amadurecendo e aprendendo a lidar com as dificuldades que se repetem ao longo das nossas vidas a duas.
Ao se deparar com uma encruzilhada em sua relação, antes de "jogar a toalha", observe atentamente a sua parceira. Enumere suas qualidades, reviva sua vida conjugal e calcule o quanto você está realmente disposta a abrir mão de tudo para "partir para uma outra". É conquista que falta? Aprenda a reconquistá-la e permita-se ser reconquistada. É delicioso apaixonar-se novamente por alguém que já está ao seu lado há anos. Somos seres multifacetados, encontre nela uma faceta pela qual ainda não se apaixonou.
Deixe os "fast" para os "foods" e o "zapping" para a sua TV por assinatura. Viva a sua relação com a paciência de um yogue e seja muito feliz.


Texto de  Nina Lopes 


3 comentários:

  1. Muito bom, gostei do texto e é assim mesmo que é, infelizmente.

    Ninha.

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  2. Algumas pessoas não sabem valorizar o que tem e desperdiçam as oportunidades que aparecem.

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  3. Hoje está tudo muito rápido e fácil. Hoje está tudo bem, amanhã no primeiro problema é cada uma pro seu lado.

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