As discussões sobre machismo e homofobia estão nas redes
sociais, na TV, nos jornais e não poderiam
ficar muito tempo longe da escola.
Com o objetivo de promover ações de formação e pesquisa em gênero e educação e
incentivar alunos e professores a debaterem estes temas, Escolas Referência de
Ensino Médio (Erems) de Pernambuco implementaram, desde o ano passado, Núcleos
de Estudos de Gênero e Enfrentamento da Violência Contra a Mulher. Fruto da
articulação entre a Secretaria da Mulher e a Secretaria de Educação com as
escolas de nível médio, a iniciativa já alcança 28 instituições de ensino do
Estado.
Localizada em Jardim São Paulo, na zona oeste do Recife, a
Erem Professor Trajano de Mendonça é uma das participantes do projeto.
Professores e alunos de diferentes séries e disciplinas formaram o Grupo
Margarida Maria Alves de Estudos de Gênero. Coordenadora do grupo e professora
de português da instituição, Rosário Leite explica que a escola já tinha um
projeto que tratava do tema desde 2011 e, por conta disso, recebeu o convite da
Secretaria da Mulher para implantar o núcleo ainda no ano passado. "Ele
nasceu com a proposta de discutir a violência contra a mulher, já que o Estado
de Pernambuco tem um alto número de casos de agressão contra mulheres,
inclusive com mortes. Conforme fomos angariando parceiros, ampliamos o debate
para questões de outros gêneros", conta.
Segundo Rosário, o núcleo ainda está em fase inicial. As
reuniões ocorrem quinzenalmente, em contraturno, e não são obrigatórias.
"É uma atividade voluntária", comenta. Nos encontros, os alunos
debatem temas como machismo e homofobia a partir de filmes, notícias, leituras
e relatos de experiência. A temática não fica restrita aos debates. "A
ideia é trazer essa discussão de gênero para a sala de aula também de forma que
perpasse todas as disciplinas, fazendo pontos de intersecção. Queremos trazer
para o dia a dia mesmo, pois quanto mais presente a discussão, mais fácil combater
a violência", afirma.
A escola também incentiva que os alunos participem de
concursos de redação sobre temáticas de gênero. "É muito importante
participar de eventos escolares, fazer debates nas salas, oficinas, seminários
e palestras", diz Rosário. O marco das discussões, de acordo com ela, é
março, na Semana da Mulher, um período especial, com atividades envolvendo toda
a escola. "Ampliamos o foco, saímos da questão da violência doméstica e
passamos a abordar a diversidade sexual e a questão da igualdade de gêneros.
Com o núcleo, os alunos passam a ser sujeitos dessa ação, a ideia é que se
transformem em multiplicadores dessa questão contra a violência",
completa.
Na Trajano de Mendonça, este período ficou conhecido como
Semana Rosa e Lilás, na qual alunos e professores usam peças de roupa nestas
cores, além de decorar a escola com balões e cartazes. "Também é realizada
uma série de encontros. Nós trazemos voluntários para darem palestras. Neste
ano, por exemplo, a semana foi aberta com a discussão sobre homofobia, e
finalizamos discutindo violência de gênero no mundo inteiro", diz.
Dos cerca de 700 alunos da escola, entre turmas do nono ano
e do ensino médio, participam regularmente dos encontros quinzenais em torno de
20. "Nem sempre são os mesmos. O grupo todo trabalhando chega a 90 alunos
diretamente engajados, fora os professores", afirma Rosário. Além disso, a
escola mantém um grupo de discussões no Facebook, onde os alunos postam e
comentam sobre temas relacionados.
A mudança no tratamento entre os colegas, bem como a
conscientização e a formação de multiplicadores contra a violência de gênero,
são o resultado da implantação do núcleo. "Isso se reflete até nas
famílias, muitos pais passaram a apoiar o projeto", diz. As reuniões
auxiliam no desenvolvimento dos alunos e na formação social. "É muito
importante para nós que todos participem. Os professores, por exemplo, vão
sempre vestidos de rosa na Semana Rosa e Lilás. Ver outros homens usando esta
cor, já faz esses alunos enxergarem a questão de outra forma",
relata.
Rosário conta que ainda há brincadeiras e provocações
eventualmente na sala de aula ou no intervalo. "Isso acaba repercutindo
entre os alunos e vira debate. Os estudantes tornam-se vigilantes. E queremos
isso: que conversem sobre o tema, que não seja necessário uma advertência do
professor", aponta.
Futuro com menos preconceito
Hoje aos 18 anos, Emanuela Sibalde participou do núcleo
desde sua implantação. "Adquiri conhecimento sobre o assunto. A violência
contra a mulher é uma realidade que muita gente desconhece. Com o núcleo,
debatemos isso e formamos nossa opinião", avalia. A jovem nota que os
meninos passaram a respeitar mais as mulheres e as próprias meninas após a
discussão em sala de aula. Também acredita que incentivar o debate irá diminuir
o preconceito. "Para o futuro, vai ser melhor. Tendo consciência de que
somos todos iguais, acredito que vai diminuir o preconceito e a violência
contra a mulher", opina.
Os números que indicam o preconceito contra homossexuais,
porém, ainda assustam, conforme as estatísticas do Instituto de Pesquisa
Maurício de Nassau (IPMN). Levantamento realizado em 26 escolas públicas, em
junho, mostrou que mais da metade dos entrevistados, com entre 14 e 20 anos,
não são favoráveis à união homossexual, enquanto 30,9% são a favor e 14,8% são
indiferentes ao tema.
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