Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou na quarta-feira
(26/06/2013) a lei federal que define o casamento apenas como uma união entre
um homem e uma mulher
"Por favor, casem-se imediatamente", disse Edith
"Edie" Windsor a amigos gays que lhe telefonavam na quarta-feira para
comemorar a decisão histórica da Suprema Corte americana, que declarou
inconstitucional a "Defense of Marriage Act" (Lei da Defesa
do Casamento, ou Doma, na sigla em inglês), abrindo caminho para que casais do
mesmo sexo tenham acesso a benefícios federais até então exclusivos para os
heterossexuais.
Windsor, 84 anos, é a autora da ação que contestou o trecho
da Doma que define o matrimônio como "união entre um homem e uma
mulher". Ela tomou a decisão de entrar na Justiça depois de ter sido
obrigada a pagar US$ 363 mil (cerca de R$ 805 mil) em impostos pela herança
deixada por sua esposa, Thea Spyer.
Como o casamento das duas não foi reconhecido pelo governo
federal, o caso foi tratado como se Windsor tivesse recebido o patrimônio de
uma desconhecida.
"Quero ir agora mesmo para o Stonewall", disse
Windsor segundo a revista americana The New Yorker, referindo-se ao bar no
bairro nova-iorquino do Greenwich Village que foi palco dos confrontos entre
gays e a polícia em 1969, transformando-se em um marco do movimento pelos
direitos dos homossexuais.
Romance e luta pela vida
Foi no mesmo Greenwich Village que teve início a história de
Windsor e Spyer, agora transformada em símbolo da luta pela igualdade de
direitos de matrimônio para os gays.
Era a década de 60. Windsor, nascida na Filadélfia, estava
divorciada do primeiro marido, Saul Windsor, com quem tinha sido casada por
menos de um ano, e havia se mudado para Nova York para poder viver abertamente
como gay. Ela conta que, na noite em que conheceu Spyer, uma psicóloga, as duas
dançaram "até fazer buracos nas meias".
Em 1967, elas iniciaram um noivado que durou 40 anos até
que, em maio de 2007, casaram-se em Toronto, no Canadá. Spyer lutava contra
esclerose múltipla desde 1977 e havia ouvido de seus médicos que tinha apenas
um ano de vida.
Após a notícia, as duas mulheres decidiram oficializar a
união de quatro décadas.
Com a progressão da doença, que deixou Spyer progessivamente
paralisada, Windsor abandonou seu emprego na IBM para cuidar da esposa em tempo
integral. Spyer morreu em 2009, após lutar contra a doença durante 32 anos.
"Três semanas antes de morrer, Thea disse: 'Nossa, nós
ainda estamos apaixonadas, não é?'", lembrou Windsor em uma entrevista ao
jornal britânico The Guardian.
Herança e angústia
Com a morte de Spyer, Windsor herdou o apartamento no
Greenwich Village onde as duas viviam e onde ela mora até hoje, e uma casa em
Long Island.
Pela lei americana, quando um dos cônjuges morre pode deixar
bens para o outro sem a necessidade de pagamento de impostos estaduais. O
Estado de Nova York reconhece o casamento de pessoas do mesmo sexo, mas como o
governo federal não reconheceu a união de Windsor e Spyer, ela foi obrigada a
pagar os impostos.
"Me sentia angustiada pelo fato de que, aos olhos de
meu governo, a mulher que eu amei, de quem cuidei, com quem dividi minha vida,
não era minha esposa legal, mas considerada uma estranha sem nenhuma relação
comigo", disse Windsor, em lágrimas, ao comentar a decisão.
Windsor relatou ao jornal americano "The New York
Times" que teve dificuldade para conseguir um advogado. O caso foi
assumido por Roberta Kaplan, do escritório Paul, Weiss, Rifkind, Wharton &
Garrison, ao lado da organização de defesa dos direitos civis União Americana
pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).
Nesta quarta-feira, enquando comemorava a decisão da Suprema
Corte ao lado de Kaplan, Windsor recebeu um telefonema do presidente americano,
Barack Obama e agradeceu seu apoio.
"Me sinto honrada e radiante por representar não apenas
os milhares de americanos que tiveram suas vidas afetadas negativamente pela
Doma, mas aqueles cujas esperanças e sonhos foram restringidos pela mesma lei
discriminatória", disse à imprensa ao comemorar a decisão.
Fonte: Terra via BBC, 26/06/2013
Fonte: Terra via BBC, 26/06/2013
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