Colocar um Félix (Matheus Solano) como vilão já foi um passo para fazer o telespectador pensar que gays não são sempre alegres e saltitantes, não trabalham apenas como cabeleireiros e estilistas e podem sim ser casados com o sexo oposto – mesmo que em uma união matrimonial totalmente de fachada. Outro assunto delicado, mas muito recorrente na vida real, que foi abordado.
A novela começou mostrando o sofrimento que é para um homossexual ter que se casar com alguém do sexo oposto para manter a imagem. Algo muito real e próximo do mundo gay – vide o tanto de homens que têm esposas e filhos em suas casas, mas não dispensam um bom bafo nas saunas, com algumas festas dedicadas só para eles.
Depois veio o casal comum (usar a palavra normal não seria prudente) formado por Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Anthony), ávidos por formar uma família como qualquer outra, com um filho para coroar a união estável. Até a perniciosidade de Amarilys (Daniele Winits) entrar em cena e balançar a orientação sexual de Eron, coisa também real, plausível e mais comum do que se pensa.
Walcyr Carrasco merece sim muitos elogios por mostrar um gay vítima do mau caratismo alheio, o sensível Niko. Assim, coloca o ódio do telespectador em cima da dermatologista que vive querendo dar a Elza no bebê Fabrício. É uma maneira de dizer, e mostrar, exemplificar, que falta de caráter não tem absolutamente nada a ver com orientação sexual, coisa que a gente sabe há muito tempo.
É um despertar da teledramaturgia para o fato de que homossexuais não são apenas pessoas caricatas e que fazem todo mundo rir, são também seres humanos – que sofrem, choram, anseiam, amparam e ensinam. Imagine você aquela senhorinha fofa que mora fora dos grandes centros brasileiros e não é acostumada a ver casais gays na rua. Com “Amor à Vida”, o casal gay comum, sem piadas forçadas em seu roteiro, entra na casa dela, a faz sofrer junto, torcer por ele.
Mídia
Uma das mais importantes revistas semanais do Brasil, a “Isto É” dedicou uma edição quase inteira justamente a essa retirada do armário que Walcyr está promovendo. Com Félix, Niko e Eron, a homossexualidade deixa de ser assunto de conversa em tom baixo, em poucos locais, e ganha as ruas, o ambiente de trabalho, o ônibus, as escolas. Mais do que a homossexualidade, a discussão sobre ela.
Finalmente deixamos para trás o tom caricatural dos personagens para ver um trio de gays que tem sentimento, é gente. Isso sensibiliza a massa de telespectadores, a faz pensar no assunto, discutir isso em casa, no trabalho e na escola/universidade. Veja as capas das revistas especializadas em televisão das últimas semanas: o casamento entre Félix e Niko é o assunto que domina, ao lado do fato de que (segundo essas revistas) o casal é quem vai criar o filho de César (Antonio Fagundes) e Aline (Vanessa Giácomo).
Com ou sem o tão esperado e comentado beijo gay, “Amor à Vida” prestou um enorme serviço à comunidade LGBT ao mostrar o cotidiano de pessoas comuns que amam outras pessoas do mesmo sexo que o seu. Simples assim, nada além disso.
Fonte: Mix
Brasil
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