“Vejo pessoas militantes LGBT e mesmo líderes atacando a fala de Glória Pires mostrada no cartaz acima. Acho ilusório o que exigimos das pessoas não homossexuais e não LGBTs. Mas gente, ela não é militante LGBT, não tem o nosso discurso. Acho que o que ela disse é positivo, sim. Ela não se mostrou homofóbica em seu comentário, pelo contrário. Ao exigir demais, podemos é afastar pessoas aliadas. Tenho a absoluta certeza de que bastaria uma conversa com ela e ela entenderia. E ainda existem, no nosso discurso mesmo, muitas contradições. Em cima da fala de Simone de Beauvoir, a “não se nasce mulher, torna-se”; tem boa parte defendendo que com homossexuais é a mesma coisa. Afinal, ao se esconder num armário, um enrustido ou enrustida não estaria vivenciando sua homossexualidade, estaria? E tem ainda teóricos queers que falam que homossexualidade não existe, é apenas um rótulo cooptado. Então, se nem entre nós há concordâncias para levarem a um discurso único, como posso exigir isso de quem não é LGBT e está de fora dos nossos debates? ilusão acharmos que atingimos o mundo todo…”, escreveu Ricardo.
Um ponto muito importante colocado na entrelinhas do texto de Aguieiras é a soberba que muitas vezes a própria militância se alimenta. Exigir que todos pensem como ela (a “cartilha LGBT” diz que deve ser assim e não assado), que sigam a mesma conduta e que tenham o mesmo grau de conhecimento e discurso passa muito mais por uma atitude autoritária do que democrática.
Aguieiras coloca clara uma certa intransigência que permeia muito o pensamento dos militantes, como existisse uma verdade única e tudo o que fosse contrária a ela, automaticamente seria inimigo da causa. No fundo é o mesmo espelho da intolerância que os LGBTs sofrem, não existe margem para as áreas cinzas, é tudo preto no branco. Estar atento a si, em primeiro lugar, antes de apontar o dedo com tanta raiva para os outros deveria ser a primeira lição que os militantes deveriam ter, exatamente como Ricardo fez. Seria muito bom que a militância fosse cada vez mais diversa e menos intolerante, afinal é por diversidade e o respeito a ela que militamos.
Temos que tomar cuidado para não nos tornarmos tão intolerantes como contra aqueles que lutamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário